💌 2 • Cuidar do que é vivo como ação de paz
Descobri em Londres que alguns esquilos sabem voar
Olá,
Espero que estejam protegidos
(das tempestades ou das marés de violências).
Esta carta foi escrita no outono de Londres, a uma média de 10°C. Não foi a Londres que eu conheci há cerca de 16 anos, e já conto o motivo. Tão logo pisei na cidade, agradeci à Raquel que andou por aqui em outras estações, e que me permitiu agora colocar uma camada a mais nessa relação. Conhecer lugares é das minhas aventuras preferidas, mas revisitar os antigos leva a outro tipo de descobertas.
Não faz muito que comecei a estudar com afinco como funciona a natureza e que passei a me colocar a serviço dela. Sempre amei os animais, que seguem comigo. Mas antes, só tinha olhos para eles e não via bem as árvores e os jardins. Chegar em Londres com essa nova lupa na mochila me mostrou que o tempo tinha agido. Mudei caminhos entre museus e teatros só para cruzar pelos parques e observar as águas se movendo. Guardei folhas vermelhas para as arqueologias do futuro.
Londres tem a maior coleção de parques urbanos do mundo, me informou o site do The Royal Parks. Um dos meus preferidos foi Richmond, uma reserva onde andei 5 horas entre sol e chuva e só vi uma parte. Estava focada em encontrar deers (na foto de abertura) que aqui são populosos. Vê-los em bando foi um maravilhamento.
Dias depois, presenciei, não sem susto, o voo de um esquilo a partir do parapeito de uma varanda. Agora sei que eles têm um sistema semelhante a asas, que os permite planar – com a graciosidade de uma panqueca, resumiu minha amiga Lau. Ao fim, o pequeno paraquedista tinha em si o equipamento certo.
Este vaivém descritivo pela fauna se deu porque queria chegar a outro registro, que envolve também a flora: caminhar entre a natureza em tempos de guerra me lembra que cuidar do que é vivo, independentemente do reino ao qual cada ser pertence, é um movimento de paz.
No Reino Unido, fala-se sobre o direito público à natureza (o right to roam), ou seja, a possibilidade de se reconectar com o mundo natural sem a limitação da propriedade privada. Enquanto ando sozinha em segurança e sem sinal de outras gentes, imagino o efeito em maior escala de pessoas livres e caminhantes. Um mundo onde fosse possível apenas vagar.
Around me the trees stir in their leaves and call out, “Stay awhile.” The light flows from their branches. And they call again, “It’s simple,” they say, “and you too have come into the world to do this, to go easy, to be filled with light, and to shine.” Mary Oliver - traduzida aqui
Antes de dizer até logo
Meu álbum do intercâmbio está atualizado, basta clicar aqui para vê-lo.
Entre as figurinhas de Londres, deixo um agradecimento especial aos meus amigos Bruna e Romano, que me receberam com edredom florido e ajudaram a falar sobre o que podemos fazer a partir das notícias que recebemos de Israel e Palestina – ou, no mínimo, como nos sentimos em relação a isso (o que já é tanto).
Para quem chegou agora e quer acessar a primeira carta que escrevi desde York, onde estou fazendo o mestrado, só clicar aqui.
Hoje vi um vídeo da Vera Calderón que homenageia as árvores – é uma gracinha.
Adicionei na lista de envio, sem pedido prévio, alguns amigos com quem troco audiocartas ou com quem gostaria de falar mais. Podem se descadastrar se não quiserem receber os e-mails.
Obrigada por dedicarem esse tempo a estarem comigo, e espero sempre por notícias de vocês!
Raquel